quarta-feira, abril 20, 2005

Quem tem alma não tem calma




Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,


Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Alberto Caeiro




2 comentários:

M de M disse...

Encontrei-te nos meus sonhos
Chamei por ti na minha solidão
Descobri-me dentro dos teus olhos
Perdi a minha calma e toda a Razão.

MSM

RealSmile disse...

Lindo poema, e não poderia ser mais verdadeiro.. :) ***