quarta-feira, junho 21, 2006

caça ás bruxas - caça ás motas

a reportagem da rtp:


e carta de Paulo Pinto á rtp, que recebi por mail, vale a pena lêr:


"Ex.mos Senhores,

Venho por este meio demonstrar o meu desagrado pela peça ontem passada em vários dos V.noticiários sobre "Perigo na Estrada - Acidentes com motos aumentam" e pelas várias e graves incorrecções na dita peça.

Em primeiro lugar, o tom de "as motos são perigosas" durante a maioria da peça deixa escondido algo que é do conhecimento público mas parece não convir "publicitar" devidamente, que é o facto de mais de 2/3 dos acidentes que envolvem motos serem causados por terceiros, não sendo as motos imputáveis.
Ou melhor, é referido o estudo do IST no final .. mas com a imagem de um "artista" a andar nitidamente de forma ilegal numa A.E. de fundo e com um tom de "eles dizem isto mas não é credivel, basta ver as imagens".

É dito na peça que no já triste fim de semana da Páscoa do corrente ano, faleceram 10 motociclistas em 15 mortes na estrada. Será que foi um simples "esquecimento" do autor da peça referir que sómente a 2 deles é que foi imputada a responsabilidade dos acidentes em que se viram envolvidos ?

A própria entrevista na abertura da peça refere um acidente fatal em que o motociclista foi literalmente abalroado e atropelado por um pesado (que depois se pôs em fuga), sem que haja culpa a atribuir ao motociclista.

Será que é "por isto que se morre em 2 rodas em Portugal", que é o que a reportagem pretendia demonstrar ?

Em segundo lugar, há que frisar que os "Acidentes com motos" não aumentaram este ano, bem pelo contrário:

- 55 Mortos nos primeiros quatro meses deste ano – ciclomotores (23, menos seis do que em 2005) e motociclos (32, menos nove).
- 238 Motociclistas feridos com gravidade nos primeiros quatro meses do ano (menos 30 que em igual período de 2005).
- 2483 Motociclistas vítimas de acidentes com feridos e mortos nos primeiros quatro meses do ano (menos 393).

Em relação ao "instrutor de condução" entrevistado durante a peça, há MUITA coisa a apontar:

- Desconhecimento total de causa: "uma moto de 1200cc atinge velocidades astronómicas" ? Este senhor não sabe que a cilindrada e a potência/velocidade não estão obrigatoriamente ligadas. Uma 600cc pode ter 130cv e atingir fácilmente os 250kms/h e uma 1200cc pode ter 80cv e mal aflorar os 180kms/h.

- Não é de todo aceitável a atitude de um instrutor de condução (para além de ele próprio estar a quebrar o código de estrada ao utilizar equipamento radioeléctrico enquanto conduz e de acelerar para passar um "amarelo" - bom exemplo de instrutor) como a demonstrada na peça. "Deves ter alguma coisa contra os sinais, pá " ? Mas que tipo de "instrução" é esta ?

- Depois de se "tirar a carta" de 125cc NÃO se "evolui" para motos sem limite de cilindrada ao fim de 2 anos. Isso será verdade aos portadores de "carta" de 250cc (que só se pode obter aos 18 anos, contra os 16 de uma 125cc), o que fará que só aos 20/21 seja possível conduzir sem limite de cilindrada/potência. Quem "tira a carta" de 125cc (como o exemplo da peça), para poder passar para uma 250cc terá que fazer exame de código/condução. O que é dito na peça é FALSO.

- A comparação de conduzir um ligeiro para um pesado com articulado é particularmente triste... e faltou referir que um recém-encartado com 18 anos, que faz exame num automóvel com 50 cavalos (ou lá próximo), no dia seguinte pode estar a conduzir QUALQUER automóvel com QUALQUER potência... Será que isto não é grave também ?

- "O equilibro é fundamental" e "a experiência para lidar com surpresas" são referidos durante a peça. O tipo de instrução que está a ser dado durante a peça mostra equipamento que poucos ou nenhuns instruendos viram ou verão durante as aulas/exame: os pinos. E claro que o instrutor se esqueceu de dizer que nas aulas se ensina a passar no exame. Não se ensina a conduzir. Não se ensina a travar. Não se ensina a prestar atenção às condições de aderência do piso (mesmo seco). Mas rápidamente o dito "instrutor" sacode a agua do capote dizendo que "a culpa não é da instrução".

- Como é que se pode permitir que um aluno de condução de motociclos circule sem o equipamento de protecção tão básico como um blusão de protecção e um par de luvas !? Será o equivalente a permitir que se tenha instrução de condução de ligeiros sem colocar o cinto e em chinelos...

Em último lugar gostava de referir uma frase infeliz, em que é dito que "uma moto é uma arma na mão" ou algo parecido. Faltou talvez referir que um automóvel pode ser uma arma muito mais perigosa ... e apontada não só ao proprio condutor/passageiros mas aos restantes utentes da via, motociclistas incluidos.

Não quero com tudo isto dizer que "os motociclistas são santos". Não são. São utentes da via como outros quaisquer, que cometem erros e excessos como os outros.
A diferença será que o motociclista será porventura mais vulnerável ao estado do piso, às "armadilhas" da estrada, ao dito equipamento de segurança que nos é mortal (rails desprotegidos), aos erros dos restantes utentes e, como é óbvio, às consequências de um acidente.

Posto isto, gostaria que a RTP, que até hoje mereceu todo o meu crédito como Órgão de Informação credível e isento e que tem conseguido evitar entrar por "audiências fáceis" com o recurso ao "popularucho" no que toca à informação, revisse a dita reportagem e repusesse a verdade a que todos temos direito.
Que seja feita uma reportagem em que se explique claramente PORQUE É que se morre em 2 rodas em Portugal, mas apoiada em verdades/números/estatísticas/análises e não em depoimentos de pessoas que (exceptuando o motociclista entrevistado) nitidamente não sabem do que estão a falar.

Com os meus melhores cumprimentos e certo que este assunto terá o devido tratamento,

Paulo Pinto

Cumprimentos"

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