não haverá um cansaço das coisas?

o homem projéctil, 2005, slide de o grande jogo

joão maria gusmão e pedro paiva

ser pessoa, carlos bica & azul c/ ana brandão


"Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser triste brilhar ou sorrir ...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão
Qualquer coisa assim
Como um perdão?"

fernando pessoa


e a liberdade de não cumprir um dever, de ter um livro para ler e não o fazer, de reconhecer outras caras, sentir o sol de um outro lado, de ouvir sotaques estrangeiros, de chamar outras cidades como nossas, mais que voar soltar-me de uma fisga tamanho homem e saltar para outro lado, assim de repente e pelo caminho tapar o sol em eclipse sombra da nossa largura, repetir os rituais autóctones de quem já não é turista, tudo isto e voltar ao lugar com um album de retratos ainda quentes, todos iguais mas de sítios diferentes, exclamar "eu também sou daqui e aqui também é de mim"

ser e desobedecer, não ser atropelado pelos dias mas sim atropela-los com o andar em contra-relógio com tudo a que se tem direito, sem perguntas, apenas ser mais do que existir

resolvia-se tudo com uma fisga tamanho homem com alcance de kilometros quadrados em qualquer direcção, semi-cerrar os olhos como se a mira fosse certa e zás...

alguém tem uma?