cheiro

Acordei mais uma vez, mais uma vez esquei-me de mim.

Acordei hoje, senti o cheiro a pele e suor,
o cheiro da cerveja descongelada,
do insenço queimado,
dos moveis montados de fresco,
do som da guitarra que em silencio anseia pelos meus dedos,
do frio matinal de quando se abre a porta,
o cheiro do carro quando se esta atrasado,
o cheiro que se sente quando se ouve o primeiro concerto do ano, de novo,
o cheiro das emoções que turbilham á flor da pela,
o cheiro de estar com os pulmões cheios de ar e gritar a peito feito mesmo que seja em silencio,
o cheiro dos passos percorridos,
o cheiro de cada encruzilhada e cada mudança de decisão,
o cheiro do inesperado e da tranquilidade que ele transpira,
o cheiro que se sente quando o momento é apenas o instante em que me espanto de existir,
o cheiro do reflexo que muda no meu espelho,
o cheiro da vontade crescente de apanhar um pombo em pleno voo,
o cheiro do sorriso e de dizer “esta tudo bem” em vez de “vai-se indo”,
o cheiro da pele da nuca no local especifico onde começa e acaba o cabelo,
o cheiro a testosterona e do coração acelarado durante os desentendimentos, mesmo que não existam,
o cheiro a adrenalina que fica depois,
o cheiro das mudanças de humor não justificadas,
o cheiro de ser tudo assim porque se gosta realmente de alguem,
o cheiro de fim de tarde
o cheiro da partida, da chegada e do regresso
o cheiro dos pensamentos que são memória que são verdade,
o cheiro de transpirar o mal e o bem,
o cheiro impressionante da humidade da terra sob o nascer da lua,
o cheiro de reviver todos os dias a seguir a cada noite,
o cheiro a futuro incerto,
o cheiro de não desistir.